Segunda-feira, 28 de Novembro de 2005
Abandonei a estridência desta rotina.
Ia fatigada nesta magnificência mesclada de pensamentos, nem por isso muito agradáveis.
É nestas alturas que sou volátil, ou mais ainda que noutros estados. Dilato-me ou contraio-me bafejando o presente com uma tristeza intranquila. Externa ou interna a tentar saltar as poças que encontro no meu caminho. Quando tombo sobre elas, engulo a água dos charcos e gargarejo, um:
- Dá-me cá um abalo.
Bebo os vossos pensamentos com ruído. É impotável o que me dizem, essa água pluvial que vão teimando colocar perto do meu caminho, que os meus sentidos reconhecem, mas que o meu ser nega com veemência, tornam-me por vezes numa desesperada.
Procuro um lugar manso que aplaque esta cólera que me cimenta a esperança. Sou um planetóide a girar à volta de tanto que os outros julgam ser o correcto. Contraída. Mensageira de uma notícia que nunca irei entregar.
Entro no carro. Seis mudanças
Para que quero tantas mudanças?
Para que quero este carro ostensivo? Já nem sei porque o escolhi. Talvez porque me deu gozo conduzir ou porque alguém na brincadeira quando o escolhi me disse que tinha tudo a ver comigo. Não. Tenho a certeza que na altura gostei dele. Hoje passado um ano, acho que quis mostrar a todos que me saí bem. Tão bem que podia comprar aquele carro. Conclusão: Sou um planetário a girar à volta do que pensam, ou a ir contra o que pensam.
O meu puro-sangue parece ensinado, passa pelos lémures, pelos símios, passa pelas depressões na estrada e pelas sombras que entoam os cânticos, deslizando sem se incomodar com os olhares de cobiça, levando-me pela auto-estrada numa direcção que me vai tapar as fendas que cada gargarejo me provocou no esófago. Envio um pedido de socorro:
- Salvai a minha alma. Um S.O.S, que repito alagado em gargarejos, que acaba por ser um som áspero parecido com isto:
- Badamerda.
-Badamerda.
É muita merda junta. Por isso badamerda é o que vos soa.
Fico tantas vezes em perigo de me despenhar que agora cada S.O.S, já só me traz uma certeza
Vou despenhar-me, mas depois consigo juntar os meus destroços e voltar a voar. Os espectadores esses ficam em exposição enquanto me retiro, suavemente para o meu hangar. Aqui deixo a disformidade, a opacidade e junto todas as peças.
A tensão no pescoço, começa a atenuar-se. Ao longe já vejo a estrada que me leva até onde posso encontrar tranquilidade. Toca o meu telemóvel, oiço-te e a tensão volta. Despeço-me do caminho que afinal não farei e faço meia volta. Volto para a luta. Nem gosto de lutas, mas volto com uma convicção vou só buscar o que é importante e faço-me novamente ao caminho. Seja a este ou a outro.
Paro este e vou buscar o meu Balde de Merda, buzino. Sorris.
- O telemóvel pode ficar em casa?
Olho para o portátil dela
Segue o meu olhar e volta a sorrir.
- Vamos sem ligações, pode ser? Vamos só nós. Não o vou levar.
Entrego-te o telemóvel, desapareces e apareces nem cinco minutos depois.
- Temos tudo o que importa.
Entras e dás-me um abraço. Agora sim vamos por aí, sem mapas, sem nada. Onde gostarmos é onde vamos ficar. Temos realmente tudo.