Sexta-feira, 18 de Março de 2005
Guardei o meu alarve que por sentir humilhado murchou de todo.
- Não sabe bater à porta? Era compreensível que até tivesse encolhido perante o olhar esfomeado do mono. Nunca senti qualquer atracção pelo género feminino. Eram demasiado insossas para um gajo como eu. Decidi por isso não prolongar aquele assunto.
- Até era um gesto de caridade alguém cortar isso. É tão mirrado que nem darias por a falta dele.
Ignorei os imberbes comentários.
Ninguém lhe ensinou a respeitar a privacidade alheia? Desconversei sem qualquer pudor. Até para um gajo como eu ser atacado na sua virilidade era demasiado.
- Se não demorasses uma hora a mijar não tinha de invadir a tua privacidade.
- Olha só a desculpa do mono!
Dirigiu-se a mim, recuei e continuei a recuar até as minhas pernas encontrarem um obstáculo. Vi-me a ser atacado por um olhar risonho e malicioso. Uma mão deslizou para entre as minhas pernas.
- Parada aí! Tenho de a avisar antes que a mão suba que sou gay!! Vades retro, belzebu.
Fiz mesmo o sinal da cruz. Não é que o mono desatou a rir-se e sem qualquer escrúpulo tornou a tentar apalpar-me as partes íntimas. Fechei os olhos. De repente parou.
- Já está!
Espreitei, segurava um pano com ar de troféu.
- Já? Perguntei ainda um pouco aturdido com aqueles apalpões e sem entender ao certo o que já estava. Aquela criatura devia ter tido um orgasmo só por me acariciar as pernas. Lógico que os meus músculos provocam sempre uma reacção nas criaturas. Mas aquela tinha superado tudo o que já tinha visto anteriormente.
- Olha lá ó pífaro linguiça e assim escusas de estar a olhar para mim aparvalhadamente, eu só queria a camisa.
- Desculpas. Tinha tido um orgasmo às minhas custas. Essa é que era essa.
Afinal o que ela queria era o pano que serviu para limpar a minha urina.
Desta vez quem se riu fui eu.
- Ah! Isso é a sua camisa. O pano que tinha servido para limpar a minha urina. Agora para meu gládio ia vestir a minha urina.
Ainda a saborear aquele momento de glória, quando a outra mona entra e me agarra pelos colarinhos. Fui arrastado para a cozinha mas ainda tive tempo de ouvir a Pica-Pau Morena Meia Cana Papa-Açordas Inch(Ada) Dos Traques Que Não Se Permite Dar, a dizer:
- Não é a minha camisa mas sim da vizinha.
Completamente embaralhado e até embaraçado e antes mesmo que pudesse replicar enfiou-me as mãos na salada.
Tive de aceitar que a minha urina ia andar a passear pelo prédio. Era tarde demais para reclamar o retorno.
- Mexe-a com as mãos. Preparava-se para sair, mas parou Lavaste as mãos?
Engasguei-me e limitei-me a disser:
- Er
- Mexe isso bem mexido! SÊ útil!
Salada de tomates da horta. Da minha horta. Mais um prato original. Daquela salada não comeria eu!
Suspirei por andar ser sempre a ser rebocado. Não eram mulheres! Eram quase camiões com semi-reboques e eu lá ia atrelado. Olhei para aqueles armários gordurosos e torci o nariz. Um cheiro assim, como direi, a marisco fora da validade inundava todo o ambiente. Se fosse marisco a comida, eu também não comeria! Aquele cheiro fazia-me suspeitar que o marisco estava já podres. O cheiro estava cada vez mais e mais próximo. Senti tonturas com aquele fedor. Puxei uma cadeira para me sentar e descobri donde vinha o cheiro.
-Ahá! Ahá!- Desmazeladas deixaram aqui o marisco estragado.
Um corpete vermelho um autêntico escândalo e uma amostra de fio dental com um fedor insuportável estava a descansar na cadeira. Estava com aquilo nas mãos quando oiço vozes. O instinto disse-me que o melhor a fazer era guardar aquilo no bolso. Mas como não cabia no bolso, fiz o que qualquer macho faria. Coloquei aquilo dentro das cuecas. Por falar nisso a ver se não me esqueço de devolver aquela bodega que tive de guardar num saco e colocar nos arrumos. Aliás acredito que o tal corpete e fio sejam mesmo responsáveis pela desertificação dos arrumos anexos.