Sábado, 16 de Abril de 2005
- Ó linguiça, ninguém morre por sangrar do nariz! A ironia misturava-se com as gargalhadas. No teu caso, na volta morres é se não te assoares depressa e nos sujares a alcatifa.
- São ambas verdadeiramente insuportáveis! Manhosas! Malvadas! Biltres! Tratantes!
Surpreendentemente ambas me olhavam com um carinho patético.
Uma delas de tanto rir descuidou-se. O estrondo foi de tal intensidade que até o prédio abanou.
- Esse era jactancioso. Pelo menos cioso de se fazer notado isso era. - E deve ter vindo com molho não, Fetiche?
- Não fui eu! Ainda se fingia de ofendida. Pois sim.
A Erótica antes sequer de me dirigir a ela, disse:
- Não olhem para mim, o ruído pode ter vindo daqui, mas não fui eu.
O certo é que o fanfarrão, tinha um cheiro fétido. E por pouco não me intoxicou. Fugimos do escritório mas o cheiro veio atrás. Palpita-me que a Fetiche sofre de flatulência, ou de um problema qualquer nos intestinos. Para que nunca nos faltasse dos seus gases devia andar sempre munida destes. Volta e meia farejava o ar e sorria de pura felicidade.
Na sala trataram-me como se fosse parte da sala. Tudo o que tinha feito estava já aparentemente esquecido. Apresentaram-me como o Gloria-Patri Kinky ao pequeno grupo que já estava sentado. Ergueram-se em gesto de vassalagem e cumprimentaram-me entusiasticamente. Mal todos se tinham acomodado, a sopa foi servida. Declinei a sopa de urina. Sou gajo para desconfiar de casas de banho tão imaculadas especialmente se a este cenário se juntar a falta de água. Para mim aquela sopa era no mínimo suspeita.
Á minha frente estava sentada a Erótica Dos Tiques Que Se Fodam Os Gajos ao lado dela o gajo de olhos castanhos que tinha ficado a chuchar no dedo. Sorri para o gajo ainda a lembrar-me do ver todo excitado. Fez-me uma carranca em resposta. Ao lado dele estava sentada a Pica-Pau Morena Meia Cana Papa-Açordas Inch(Ada) Dos Traques Que Não Se Permite Dar. Reparei como elas deslizavam a mão para as pernas do colosso. Pensei que seria melhor não ver o que se passava por debaixo da mesa ou ainda ficava escandalizado. Ao meu lado estava um quadrúpede e uma gallina. Nos extremos das mesa, um Minotauro e uma Vénus de willendorf. A conversa era supérflua a comida intragável. As duas criaturas divertiam-se a acariciar o brinquedo que estava entre elas.
Não retive nada do que se conversava, mas detive-me na expressão das minhas vizinhas. Pela primeira vez reparei como pareciam cansadas, esgotadas. Completamente saturadas do que as rodeavam. As mãos mexiam-se automaticamente, deviam estar a fazer massagens ao brinquedo. Ora massajava uma, ora massajava a outra. Era um gesto mecânico, automatizado. O gajo, o tal que ficou a chuchar parecia completamente consolado.
- O que é isto? A Vénus de Willendorf, depois de um ataque de tosse cuspiu um pedaço de tomate e um cabelo.
Aquele cabelo pertenceria à floresta do meu alarve? Devia pertencer. Pobrezinho onde ele acabou. Paz à sua alma.
- Uma das duas anda a perder cabelo. - Disse a Vénus, já novamente a servir-se de nova dose de salada.
Por acaso nem perdia grandes cabelos daquela zona. Mas depois de coçar as alarvidades, era natural que alguns viessem agarrados aos dedos. Virei a cara enojado. Com um pouco de azar e calhava-lhe outro pintelho meu. Mal-empregados.
A erótica e a Fetiche necessitavam de um resguardo. Falavam de boca aberta e a comida voava para cima de tudo. Babavam-se, a comida escorria pelos cantos dos lábios.